quinta-feira, maio 14, 2009
Tinta da China
Acomodada
estava a morte
já havia tempo
surpreendida
por um ou outro
pôr-do-sol
escavava
a faca
arando a pele
semeava
o
grão
o pão
o corpo
mal-dormido
requebrado
bebia do vinho
o nanquim
espalhado
no papel
também já velho
não um acaso
não um abuso
não um pensamento
nem mesmo um zen
nem mesmo um medo
tampouco a coragem
as luzes,
obviamente,
não eram mais
nascidas do sol
nem das garrafas
nem de seus copos
ou sonhos
ou dores
cruzava os desertos
cruzava os papéis
as estradas
os mapas
não um acaso
não um abuso
não um pensamento
Cortaram-lhe então
pés
mãos e língua
Os olhos
encarregou-se ele próprio de os furar
ouvia ainda por pouco
ao certo
mas ouvia
não um acaso
não um abuso
não um pensamento
Os papéis
ficavam cheios
e acumulavam-se
no chão
concretos
formavam o mapa
o corte
a fenda
curavam a dor
a flor brotava
junto das luzes
nascidas de
suas mãos
sujas
da escuridão
do
preto
nanquim
e da escuridão
Alexandre Gomes Vilas Boas*
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4 comentários:
"Le printemps est inexorable"
[Pablo Neruda]
Eu curti, Alê!
[]'s!!!
Merci pour votre commentaire Hélène.
Oui, en effet, Le printemps est inexorable
Marcelo, Obrigado...
precisamos nos ver para fazer um trabalho juntos!
Abraços.
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